sábado, 12 de setembro de 2015

Agora tem! Coletivo Marias & Amélias de Mulheres Analistas do Comportamento

Passando pra avisar que, finalmente, saiu. Eu e umas minas muito fmz fundamos um coletivo de mulheres analistas do comportamento. O Coletivo Marias & Amélias é uma iniciativa que busca reunir as analistas do comportamento interessadas em estudar, pesquisar e discutir as perspectivas feminista e behaviorista radical lado a lado.

Temos percebido que o interesse nas duas coisas na nossa comunidade é crescente e que várias minas pelo país estudam o tema, trabalham com mulheres de uma perspectiva analítico-comportamental ou simplesmente perceberam que as coisas têm a ver, mas não havia um espaço de organização política para unir forças em torno da coisa e para que pudéssemos, ao menos, trocar experiências.


Como toda organização, temos nossos limites. Por reunir mulheres do país inteiro, é complicado ter ações que rolem num mesmo espaço físico, então, recorremos à internet. Isso complica de juntar todo mundo, mas estamos pensando em nos organizar em torno das ações menores em grupos de trabalho e articular como for possível.

Também seguimos o feminismo radical como vertente teórica. Para algumas, isso é uma dificuldade ou mesmo uma visão tacanha, para outras, quase um oásis já que coletivos feministas radicais não são tantos assim. Me abstenho de entrar nas tretas acerca dessa escolha, mas queria destacar que é a vertente teórica com que as fundadoras se identificaram em maior ou menor grau e que julgam ser uma boa ferramenta para pensar comportamentalmente.

O nome é em homenagem à Maria Amélia Matos, uma das behavioristas radicais brasileiras mais conhecidas e notável por sempre ter divulgado e sido combativa acerca da sua abordagem. Podíamos ter homenageado tantas outras, como Carolina Bori, Tereza Sério, Rachel Kerbauy... mas escolhemos a Maria Amélia para representar tantas outras Marias e Amélias de nós.

Se quiser acompanhar, clica aqui e confere a nossa fanpage. Já publicamos nossa carta de princípios, os critérios de participação e vem muito mais por aí!

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Sobre as vertentes do feminismo

Um parágrafo para resumir o "nossa, mas por que vocês feministas brigam tanto?" e "ué, mas feminista não é só aquela a favor de direitos iguais?", no livro Dicionário Crítico do Feminismo (Hirata et. al., 2009).

Do verbete "Movimentos Feministas", de Dominique Fougeyrollas-Schwebel:
"Três correntes no seio do movimento se opõem quanto à definição da opressão das mulheres e suas estratégias políticas: feminismo radical, socialista e liberal. Segundo abordagens mais detalhadas, ocorrem distinções entre feministas marxistas ou socialistas, libertárias, radicais, lésbicas, materialistas ou essencialistas. A oposição politicamente mais frontal recai sobre as feministas liberais, de um lado, e feministas radicais e socialistas, de outro. Por 'corrente liberal', devem-se entender os movimentos fundados na promoção dos valores individuais; com a luta pela total igualdade entre mulheres e homens, pode-se falar de um feminismo reformista que conta, por meio de políticas de ação positiva, com a prioridade dada às mulheres para reduzir as desigualdades. Ao contrário, os movimentos de liberação das mulheres querem romper com as estratégias de promoção das mulheres em proveito de uma transformação radical das estruturas sociais existentes. Esse movimento será marcado por oposições quanto às estratégias prioritárias entre aquilo que se denomina na França de feministas socialistas ou tendência da luta de classes, que afirmam que a verdadeira liberação das mulheres só poderá advir de um contexto de transformação global, e as feministas radicais, que sublinham que as lutas são conduzidas, antes de tudo, contra o sistema patriarcal e as formas diretas e indiretas do poder falocrático (Picq, 1993). No âmbito do próprio movimento radical, os grupos de lésbicas advogam a necessidade de um separatismo radical para lutar contra toda obrigação à heterossexualidade (Clef, 1989)".

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Por uma defesa da raiva

Li na última semana um texto (mais um dentre tantos) que falava da agressividade tão constante dos espaços feministas. No caso do texto, era discutida a agressividade contra os homens que tentavam se aproximar do movimento, com o conhecido argumento de que a revolução na sociedade também passará por desconstruir o machismo nos homens e que devemos aproximá-los se quisermos fazer isso, não apartá-los. Também já vi várias vezes mulheres falando de como deveríamos ser menos agressivas entre nós ao defender os aspectos específicos de cada alinhamento feminista, em vez de acusar, discutir e rachar umas com as outras. Não vou linkar o texto citado aqui porque acho que não vem ao caso, até porque, se você procurar, vai achar um bom punhado de textos sobre o assunto, com os mais variados argumentos: homens são aliados, não protagonistas, então devemos educar e manter nossos espaços; ai, mas eu não odeio homem, imagina; essa agressividade toda só divide o movimento, cadê sororidade; etc. (Comecei por ele por ter sido um texto disparador, mas na verdade faz tempo que penso em escrever sobre isso; não tenho interesse em fazer guerrinhas de ego nem apontar o dedo para mulher nenhuma, até porque não sou ninguém na fila do pão do feminismo internético brasileiro e espero de verdade que continue assim).

Eu mesma já concordei bastante com esses argumentos. Como psicóloga e analista do comportamento, tendia a levar a discussão para o lado individual, pensando em tudo que os autores da área falam sobre punição. Os maiores críticos do uso da punição para ensinar alguém talvez tenham sido o próprio Skinner, fundador da abordagem, e o Murray Sidman, seguidor direto do primeiro quanto a esse assunto. Muito basicamente, o que se fala sobre punição é: 1. não é efetiva, dado que uma pessoa punida ao fazer algo só aprende a não fazê-lo, mas não aprende nada melhor no lugar e, mais ainda, aprende a deixar de fazer apenas na presença de quem/o que o puniu, o que chamamos de contracontrole; 2. frequentemente gera produtos indesejáveis, como sentimentos de raiva, culpa, ansiedade, etc. na pessoa punida[i]. Ou seja, punição não ajuda e ainda atrapalha. No exemplo citado, além de só fazer com que o cara vá falar mal do feminismo pelas costas das feministas, ainda vai deixar ele com raiva em vez de se interessar por aprender de verdade alguma coisa.

Mas de uns tempos pra cá eu comecei a ficar bastante cética sobre o assunto. Primeiro que a punição, ao contrário do que a maioria dos analistas do comportamento costuma acreditar, não é o diabo feio que se pinta. Infelizmente, nosso meio é coercitivo[ii]. A coerção é uma realidade em qualquer ambiente. Frequentemente fazemos coisas que não queremos fazer, tomamos bordoadas que não imaginávamos tomar e o clima de tabu em se falar de métodos punitivos é bem ruim para uma abordagem que se diz científica. Segundo que os conceitos de punição e coerção vêm sendo já bastante discutidos. Carvalho Neto & Mayer (2011) apontam que Skinner, em diferentes momentos da sua obra, tratou reforçamento e punição como assimétricos e como se reforçar em vez de punir fosse sempre melhor, mas que não é bem assim – o reforçamento também acarreta subprodutos a que pouco atentamos, mas que o próprio Skinner até menciona em alguns momentos discutindo questões sociais, como a baixa resistência à frustração que pode causar (ver Skinner, 1987). Enfim, tem um milhão de questões conceituais que não vale a pena escarafunchar aqui nesse texto, mas é bom prestarmos mais atenção no que falamos sobre punição.

Para além dessas nerdices de behaviorista radical, comecei a me questionar sobre a propaganda que fazemos de tratar as pessoas sempre bem e sermos todas amigas e vamos dar as mãos e ser felizes dentro do feminismo. As primeiras a colocar o dedo na nossa cara com razão foram as feministas negras. O feminismo, enquanto movimento com esse nome e com uma série de preceitos específicos, sempre foi elitista e voltado para as questões de mulheres brancas e burguesas. Uma dessas mulheres sou eu. Eu me senti confortável no feminismo assim que percebi que minhas questões com a mulheridade são contempladas no seio do movimento. Eu posso sentar, ler, discutir e me sinto representada pela maioria dos tópicos que são discutidos. No entanto, nem todas são. Frequentemente existem casos de racismo dentro de grupos feministas e quando as mulheres negras vão apontar, são cobradas com os argumentos que citei acima. “Ah, mas vocês estão sendo agressivas”. “Ah, mas vocês estão dividindo o movimento”. “Ah, mas EU não achei isso que você está dizendo racista”. “Ah, mas EU não sou racista, tenho amigas negras”. “Ai, não precisa ser grossa comigo, cadê a sua sororidade”. And so on, and so on.

"O movimento feminista participa dos movimentos antiautoritários (...) Pertencer ao movimento representa a realização de uma nova ideologia, a pesquisa de sentido e de valores comuns. A essa nova ideologia denominou-se "sororidade": sisterhood is powerful (a sororidade é poderosa). Mas as questões de identidade racial ou nacional dividem o movimento, e a solidariedade comum das mulheres é rapidamente questionada pela suspeita da ignorância dos problemas próprios de cada grupo identitário, pelo temor da criação das novas formas de dominação entre homossexuais e heterossexuais, entre burguesas e proletárias, entre as mães e aquelas que não o são, entre as mulheres brancas e as mulheres negras (...)". (Fougeyrollas-Schwebel, 2009, p. 146).

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Escrever, escrever, escrever

Tenho pensado muito em escrever mais sobre feminismo pro blog e sinto bastante dificuldade. Assim que escrevo dois parágrafos, tenho vontade de jogar fora. Uma das maiores dificuldades que sinto é de conectar o feminismo ao behaviorismo radical, que é a tradição filosófica que eu estudo na psicologia.

Não por achar que não há nada a dizer, pelo contrário. Entrei no mestrado justamente por um campo vastíssimo se abrir sobre isso a cada vez em que penso no assunto. Existe muito pouca coisa publicada sobre isso (a maioria de uma mesma autora, a Maria Ruiz; e são artigos contados nos dedos das duas mãos). Então, qualquer coisa é novidade.

O problema parece ser justamente esse. Sinto como se estivesse sempre balbuciando, começando de premissas muito básicas que precisam ser esclarecidas, enquanto outras áreas estão a anos-luz de nós. É meio chato. Além do mais, o behaviorismo radical é uma corrente maldita - não falamos bonito, não temos frases de efeito sobre como funciona o mundo e não fazemos o estilo "de humanas". Não atraímos atenção. Qualquer coisa misógina que o Freud tenha dito tem mil defesas feministas. O behaviorismo radical, não.

Internalista, né? Mas é isso.


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Skinner e o fluxo da consciência

A gente se acha muito geração Y e muito dispersa e muito "será que tenho TDAH" e muito procrastinadora por culpa do Facebook (e do Twitter, e do Tumblr, e do WhatsApp, e de tudo o mais em que se possa pôr a culpa...).

Mas o Skinner tinha o mesmo problema, como se pode ver no manuscrito não-publicado (procrastinado?) do texto The Stream of Consciousness.

"A despeito de todo o esforço de eliminar linhas de atividade improdutivas eu ainda me encontro trabalhando em muitos - todos fascinantes - campos. Aqui estão algumas coisas que 'vêm à mente' enquanto ouço música deitado numa manhã de domingo: [...]"



(texto via B.F. Skinner Foundation)

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Entrevista sobre Game of Thrones e a cultura do estupro na mídia para a Revista Fórum


Dei uma entrevista para a queridíssima colega Jarid Arraes, em que ela pediu para que falasse um pouco sobre cultura do estupro, tendo como ponto de partida uma cena do seriado Game of Thrones. Acabei falando de análise do comportamento lá, e como é relativamente raro que isso role na grande mídia, achei válido postar aqui.



Link para a entrevista completa clicando aqui.